Wednesday, March 26, 2008

Prece, Fé E Médicos

O autor do livro " Quando Médicos Tornam-se Pacientes " (tradução livre) o psiquiatra Dr. Robert Klitzman fala ao The New York Times sobre suas experiências com pacientes, prece e fé.

1. Religiã
o não é frequentemente falada em medicina, mas ela deve ser? 


"Vou rezar por você", disse um psiquiatra senior ao meu paciente. Seu comentário me surpreendeu. Eu estava em treinamento, e a paciente era uma pequena mulher latina que permanecia desalenta apesar da medicação, psicoterapia ou qualquer outra coisa que eu fizesse. Realmente ele oraria por ela?


Ocasionalmente, como estagiário, eu observava o capelão do hospital , mas na escola médica onde eu e outros treinavam , religião ou espiritualidade nunca são ensinados. A Ciência e considerada lógica, racional e objetiva, enquanto crenças espirituais são irracionais, subjetivas, fugazes e difícil de serem descritas. Não surpreendentemente, pesquisa sugere que os médicos tendem a ser menos religiosos do que os seus pacientes.


Mas por outro lado, há alguns anos atras, transformei-me em um paciente e começei a olhar para estas questões de forma diferente. Minha irmã morreu em 11 de setembro nos ataques ao World Trade Center , deixando-me atordoado e deprimido. Conforme eu ia me recuperando, comecei a querer saber sobre outros médicos que tinham se tornado pacientes. Acabei entrevistando mais de 50 deles. Eu logo aprendi que quando os médicos ficam seriamente doentes , eles igualmente tendem a reconsiderar as suas opiniões espirituais.


Falei com diversos médicos que eram religiosos antes de ficarem doentes, mas evidentemente eles tornaram-se ainda mais religiosos desde que enfrentaram uma grave doença . Outros mudaram mais dramaticamente. "Os pacientes costumavam me pedir para orar por eles, e eu não tinha paciência com isto," um médico idoso me disse. Depois que ele ficou doente, ele "percebeu o quão importante era a prece. "




Muitas vezes, estes médicos expressaram uma mistura de crenças, extraidas da religião organizada com a qual cresceram adicionando elementos da filosofia Oriental ou crenças da Nova Era. 


Dito isto, alguns médicos não mudaram pela doença, mantendo-se céticos e desiludidos com a religião organizada. "Eu vejo que isso ajuda os meus pacientes," , um médico me disse. "Gostaria que eu tivesse mais disto na minha vida ... Mas eu não tenho." Não podia ser uma escolha sempre.


Alguns médicos sentiram que a prece pode alterar diretamente o processo físico de cura através da intervenção de deus. O meu ponto de vista é que a prece e a fé dão força e motivação vitais que podem ajudar os pacientes a lidar e continuar a lutar.


2. Importa se você e o seu médico compartilham as mesmas crenças espirituais?


Eu discutiria que as crenças pessoais do seu médico não importam. O que importa é que o médico reconheça que as suas crenças são importantes para você. O treinamento não pode convencer os médicos a tornarem-se mais espirituais. Mas pode, espero, torná-los mais conscientes da gama de pontos de vista que os seus pacientes tem. Religião é uma enorme área que muitos médicos não sabem muito sobre, contudo, é sobre isto que os nossos pacientes estão pensando . Eu não tinha apreciado a extensão disto, até que eu mesmo tornei-me um paciente.


Pensando outra vez no psiquiatra senior que disse a minha paciente que rezaria por ela, agora eu percebo como ele era astuto. Eu a vi como uma mulher pequena e deprimida. O que ele percebeu é que o catolicismo seria importante para ela. Essa foi a maneira de se conectar com aquela mulher, que até então tinha rejeitado os nossos esforços para ajudá-la. Na época, para mim,isto parecia uma coisa estranha de se dizer. Em retrospectiva, era completamente empático.


Como estagiário, infelizmente, eu habitualmente era ocupado demais para discutir estas questões com os pacientes - não era consciente ainda da sua importância. Mas espero agora que os futuros médicos farão melhor. Isto ajudará os doentes. E os seus médicos, também.


Dr. Klitzman é professor associado da Clínica de Psiquiatria na Columbia University Medical Center.


Fonte : NYTimes

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