Monday, October 12, 2009

A Humanidade É Bipolar, Entrevista Com Wolfgang Sperling

Segundo o psiquiatra alemão Wolfgang Sperlinga humanidade é bipolar.Para ele a recessao e a pandemia são só sintomas de uma doença coletiva global.


O vírus da gripe suína surgiu num momento auspicioso – para o vírus, é claro. O agente causador da pandemia iniciou seu assalto a humanidade em abril, no México. Seis meses antes, a quebra do banco americano Lehman Brothers aprofundou a maior crise econômica em 80 anos. Se o mundo não estivesse em recessão, talvez o surto de gripe não tivesse virado pandemia, diz o psiquiatra alemão Wolfgang Sperling, na revista Medical Hypothesis. Sperling culpa os novos meios de comunicação. A rapidez com que a imprensa noticiou a falência do Lehman e o surto no México gerou ondas globais de pânico, só comparáveis a alegria gerada pelos primeiros sinais de retomada. Esse fenômeno faz a população oscilar entre a euforia e a depressão. “Se a humanidade fosse um paciente, ela seria bipolar.”


Wolfgang Sperling, de 45 anos, e psiquiatra e professor na Clínica Psiquiátrica e de Psicoterapia da Universidade de Erlangen-Nurnberg, em Erlangen, na Alemanha.


Sperling pesquisa os efeitos epidemiologicos do alcoolismo e dos distúrbios de comportamento, como a síndrome do pânico, a desordem bipolar e a esquizofrenia.

E autor e coautor de 70 artigos em mais de 20 publicações científicas como Alcohol and Alcoholism, Medical Hypothesis e Neuropsychobiology.

Como o senhor vê a reação global a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008?

Wolfgang Sperling – O que houve foi um efeito dominó. A quebra do Lehman Brothers desencadeou uma reação em cadeia global de pânico nos mercados financeiros, levando a quebra de outros bancos, e assim por diante. Tudo se deu muito rápido. Em questão de minutos, a onda de pânico deu a volta ao mundo, atingindo praticamente todas as pessoas com conexão a internet. Quando se analisa aquela reação em cadeia global, percebe-se que as novas mídias tiveram papel crucial na crise. O Lehman Brothers foi apenas a primeira pedra. A culpa da crise e dos meios de comunicação.

O senhor diz que a pandemia é uma consequência da crise. Como assim?
Sperling – Eu enxergo a pandemia como um efeito indireto da crise global. O novo vírus influenza A(H1N1) surgiu no México, em abril. Apesar de não ser mais perigoso que o vírus da gripe comum, o H1N1 deu origem a uma pandemia. O que explica a eclosão da pandemia e a existência de uma conexão entre o surgimento do H1N1 e a crise mundial. Essa conexão são os meios de comunicação.


É uma hipótese muito ousada.
Sperling – Não, não é. Há precedentes. Esta não é a primeira vez que uma pandemia sucede a uma crise econômica. Quem se lembra da síndrome respiratória aguda grave (Sars, de suas iniciais em inglês), uma forma letal de resfriado que matou 800 pessoas na China e no Canadá, em 2003? A Sars foi a primeira pandemia do século XXI. Ela ocorreu após o estouro da bolha da internet, em 2000, e os ataques de 11 de setembro de 2001. Hoje, temos a gripe suína.

Mas qual e o papel dos meios de comunicação nessa história?
Sperling – Eu não conseguia entender como podiamos ter duas pandemias num espaço tão curto de tempo. A resposta veio quando analisei os aspectos econômicos e tecnológicos da questão. No mundo globalizado, as pessoas viajam de um continente para outro em menos de um dia. Elas estão conectadas 24 horas por dia. As condições estavam dadas para que os meios de comunicação pudessem incendiar o planeta com a notícia da quebra do Lehman. Fizeram o mesmo com o H1N1. Não importa o lugar, Alemanha, Brasil ou Fiji, todos sabem o que e a gripe suína. Há cem anos, ninguém saberia.


Ainda não está clara qual seria a conexão entre a crise e a pandemia.
Sperling – A primeira vez que uma crise mundial e uma pandemia ocorreram em sucessão não foi em 2009, com o H1N1, nem em 2003, com a Sars. Foi no fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o pior conflito que a humanidade viveu até então. A Grande Guerra foi o primeiro evento global, que conectou todo o planeta. Em 1918, após quatro anos de conflito e 10 milhões de mortos, as pessoas estavam cansadas, famintas, sem esperança. Os milhões de soldados nas trincheiras da Europa tinham vindo de todos os cantos do mundo e não queriam mais lutar. Não viam sentido no conflito. Foi quando eclodiu a Gripe Espanhola de 1918. Ela deu a volta ao mundo em seis semanas, mas a população só soube disso muito depois. A diferença entre 1918 e 2009 e que hoje, graças as telecomunicações, nossa sociedade é transparente. Sabemos o que ocorre do outro lado do mundo em tempo real. A crise bancária foi um produto dessa sociedade transparente.


O crash da Bolsa de Nova York, em 1929, não antecedeu a uma pandemia.
Sperling – É, mas o crash de 1929 talvez tenha sido mais localizado. Não foi uma crise global que contaminou todos os mercados financeiros, pois eles não eram interligados como hoje. Em tempos de globalização, se um banco alemão tem problemas de caixa, isso pode refletir imediatamente em bancos no Brasil. Não foi assim em 1929. Por isso, aquela crise não pode ser comparada a de hoje.

Mas recessões e guerras são eventos independentes de uma pandemia.
Sperling – o, não são. Graças às telecomunicações, todo o mundo sabe tudo o que acontece o tempo todo. Esse bombardeio de informações cria sentimentos de euforia e de depressão. Na medicina, um paciente que alterna estados de euforia e depressão sofre de síndrome bipolar. Emoções semelhantes estão por trás dos movimentos de alta e baixa do mercado acionário. Não é novidade. Em 1996, Alan Greenspan, o então presidente do Federal Reserve (o banco central americano), alertava para o risco do que chamou de “exuberância irracional dos mercados”. Era o periodo de euforia da bolha da internet. Quando ela estourou, em 2000, a euforia deu lugar a depressão. É o que vemos hoje. O incrível é que o sentimento de depressão que se alastrou pelo mundo há um ano já esta sumindo. As Bolsas voltaram a subir – sem razão aparente alguma. É o mesmo processo. Ninguém pode detê-lo. O mesmo se da com a pandemia. Não se pode contê-la. Essa é a conexão entre dois eventos muito diferentes, um na esfera econômica, o outro na esfera da saúde. A humanidade sofre de síndrome bipolar global.

"A humanidade começa a manifestar claramente momentos

Síndrome bipolar global (SBG)?!?
Sperling – A síndrome bipolar e a alternância brusca entre dois sentimentos muito diferentes que causam ansiedade. De um lado, temos as emoções ligadas ao estado de depressão. De outro, aquelas ligadas ao estado de euforia, o que chamamos de manias. Para mim, a humanidade começa a manifestar claramente momentos de alternância emocional entre a euforia e a depressão.


A humanidade está doente?
Sperling – A psicose bipolar é uma forma de doença psiquiátrica. Se olharmos os acontecimentos dos últimos anos, veremos que a SBG e o fator definidor de tudo o que vem acontecendo no mundo – não só na órbita da economia. Esse fenomeno faz parte das transformações causadas na sociedade pelo advento dos novos meios de comunicação.


Quais são os sintomas da SBG?
Sperling – Os principais sintomas são uma ansiedade incontrolável e a dificuldade de reagir de modo adequado aos problemas. No limite, os sintomas se assemelham aos de um paciente com síndrome do pânico. Quem sofre de panico escolhe fugir dos problemas, deixar tudo para trás. Jamais enfrenta a situação que causa o pânico para buscar uma solução. Na SBG acontece o mesmo. Quando um banco quebra, todos saem correndo.

Então, a SBG seria a conexao entre a crise global e a pandemia?
Sperling – Sim, mas de forma indireta. O sentimento global de depressão age como um facilitador para o advento da pandemia. Há uma relação clara entre os humores da economia e a saúde pública. Vivemos numa sociedade de consumo, materialista. Todos sabemos como a falta de dinheiro pode fazer mal a saúde. Ela atrapalha nossos relacionamentos, causa tensão, ansiedade e insônia. Esta provado que o aumento dos níveis de estresse está relacionado a uma redução na capacidade de defesa do sistema imune. Logo, é razoável supor que uma crise economica mundial afete o sistema imune de centenas de milhões de pessoas. E é quando a humanidade está com a saúde fragilizada que eclodem as pandemias.


Há cura para a SBG?
Sperling – Precisamos criar alguma forma de terapia global. Por analogia, há vários meios para tratar um paciente com pânico. Usam-se remédios com a função de acalmá-lo. Não por acaso, acalmar os mercados e a prescrição usada pelas autoridades para deter o efeito manada nos momentos de pânico. O mesmo se aplica aos meios de comunicação. Acalmar a mídia significa dizer: “Nao reajam tão rapido, alardeando o mundo de que há uma nova crise. Esperem!”.

Isso é censura.
Sperling – Se quisermos interromper esse comportamento irracional coletivo, será preciso agir com despotismo. Esse e o problema que devemos enfrentar.

Fonte: Revista Epoca

Monday, October 5, 2009

A Importância Da Boa Alimentação



Há menos de dois séculos, os alimentos eram julgados apenas pelos seus valores nutritivos e energéticos. Fatias de carne vermelha e enorme pedaços de pães eram apresentados como responsáveis pela energia do homem. Ate hoje, nos filmes que exibem batalhas e retratam personagens que necessitam de forca maxima, os soldados são mostrados abocanhando pedaços de carne e disputando fatias de pães. No tempo das cavernas, o espécime homem sobreviveu comendo os animais que abatia.


Se essa pratica estivesse errada, não estariamos aqui para contar esta história. O princípio da alimentação continua sendo o mesmo: proteinas e energia. O que se descobriu, nos ultimos duzentos anos, e que os alimentos também fornecem ingredientes que tem grande importância para o organismo e que não são nem construtores, nem mantenedores do corpo humano. Por não serem fáceis de quantificar ou de perceber, nunca haviam sido avaliados detalhadamente.


São os nutrientes, especialmnente as vitaminas e os minerais, "peças" fundamentais na construção da nossa saúde e que, ainda hoje, são ignorados em muitas preparações dos alimentos. Veja o exemplo de uma simples folha de alface ou de outra verdura qualquer.Numa mesa, na qual estarão o arroz, o feijão e um bife de carne bovina - um cardápio tipicamente brasileiro , alface poderá parecer, para muitos, um simples artifício de ornamentação.Assim como pareceriam folhas de rúculas, de agrião e fatias de tomate .


Pois o que se sabe hoje, e que essas verduras e esses legumes são ricos em determinadas vitaminas, ricos em minerais e em fibras.

Foi no principio do século passado. inicio do século XX, que as pesquisas em nutrição demonstraram a importância da ingestão adequada de nutrientes na promoção do crescimento e do desenvolvimento do ser humano.

A Era das Vitaminas


Uma nova era estava surgindo, na qual as coisas diminutas assumiram grande importância na dieta das pessoas - a era das vitaminas.


Tão diminuta e esta relação que a proporção entre a quantidade de vitamina e o peso do corpo e negligenciada. Mas as pesquisas mostraram que a presença das vitaminas, embora quase imperceptível, era fundamental para o bom funcionamento do organismo humano.


A evidência da existência e da importância das vitaminas surgiu por acaso. Em 1747, exploradores do mar estavam sendo acometidos de um doença que acabava com toda a tripulação. Então, por acaso, laranjas e limões que existiam a bordo foram dados aos tripulantes, e a doença desapareceu.


Constatou-se, então, que havia alguma coisa na laranja e nos limões que tinha esse efeito notável. Hoje, sabe-se que aquela doença era o escorbuto, causado pela deficiência de vitamina C, que se manifesta por cansaço, fraqueza, dores musculares, articulares, sangramento de gengivas, amolecimento dos dentes, pré infeccao, hemorragias. O resultado e uma anemia grave e a morte.


Em outra parte do mundo, naquela mesma epoca, outra doença acometia os marinheiros japoneses. A enfermidade manifestou-se com pertubação nos sistemas gastrointestinal, nervoso e cardiovascular. Esses marinheiros alimentavam-se com arroz branco polido. Naquela época, nada se descobriu que pudesse ajudá-los.

Em 1884, houve uma mudança na alimentação nos navios da marinha japonesa, instituindo-se carne, peixe e vegetais. A enfermidade diminuiu. Hoje,sabe-se que essa doença e o "beriberi", causada pela deficiência de vitamina B1.


Mas foi somente no século XX que os médicos e cientistas atribuiram essas doenças a deficiência de nutrientes na dieta. Eles preferiam acreditar que tais doenças eram causadas por microrganismo, como vírus e bactérias.


Filhos Altos, Pais Baixinhos


No princípio do século passado ( o seculo XX ), nas pesquisas em nutrição demonstraram a importância da ingestão adequada de nutrientes na promoção do crescimento e do desenvolvimento normal dos bebês e crianças e na proteção contra doenças carenciais.


Em 1932, o antropólogo Bower mostrou que estudantes recém admitidos em Harvard eram mais altos e mais fortes do que seus pais que lá estudaram, no inicio de 1900. Um dos principais fatores para a explicação da diferança entre duas gerações foi a melhor alimentação durante a infância e a fase de adolescência. Outros fatores importantes foram o controle das doenças infecciosas agudas e crônicas e melhores cuidados obstétricos.


Em outro estudo, demonstrou-se que mulheres japonesas nascidas na California eram mais altas e mais fortes que suas parentes nascidas e criadas no Havai, enquanto outras, nascidas e criadas no Japão, eram mais baixas e mais magras do que os outros dois grupos. A diferença entre esses tres grupos pode ser explicada, em parte, pela quantidade e pela qualidade dos alimentos consumidos durante a fase de lactente e da infância.


Recentemente, observou-se que, quando a necessidade nutricional do adolescente não e alcançada, o potencial estatural, ou seja, a altura esperada para aquele jovem, não eéatingido.


Essas e outras observações tem demonstrado, para os pesquisadores da área de saúde, que uma ingestão adequada de nutrientes, principalmente na fase de amamentação e na infância, e um requisito básico para um indivíduo sadio atingir seu crescimento potencial.


Diante disso, pode-se afirmar que a alimentação exerce grande influencia sobre cada pessoa, principalmente sobre a sua saúde, sua capacidade de trabalhar, estudar, divertir-se, sua aparência e sua longevidade.


Uma pessoa bem alimentada e nutrida dificilmente adoece, porque seu organismo tem defesas proprias, naturais, contra as doenças. "Nos somos o que temos no sangue e temos no sangue principalmente o que ingerimos" e uma frase que muitos pesquisadores costumam repetir.


Uma pessoa mal nutrida, com alimentação pouco variada, e fraca, irritadica, desanimada, sem vontade de trabalhar, andar, pensar, enfim, de realizar qualquer atividade que dependa de esforcos muscular e cerebral.


A nutrição e um dos fatores comportamentais mais importantes que afetam o estado de saúde de um indivíduo ou de uma nação.


Uma dieta inadequada em calorias levará a uma limitação da eficiência física e a uma diminuição de rendimento em proporção direta coma insuficiência calórica. A força e a tensão muscular ficam diminuídas num estado de fome prolongado ou em fases de alimentação inadequada.


A deficiência vitamínica impede a aptidão, afeta o bem estar mental e também diminui a capacidade para o trabalho.


A deficiência proteica causa fraqueza muscular, fadiga, irritabilidade fácil e, como resultado, transtorno na capacidade de trabalhar. Uma dieta adequada em qualidade e quantidade, contendo todos os grupos de nutrientes, previne ou corrige essas alterações.


Fonte : Livro: A Alimentação que Previne Doenças
Do Pré Escolar a Adolescência

Dra. Jocelem Mastrodi Salgado
Profa. Titular em Nutrição USP


* este livro foi escrito tambem para adolescentes .

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Sociedade Brasileira de Alimentos Funcionais