Tuesday, January 29, 2013

Hábitos Da Felicidade

O que é a felicidade e como podemos conquistá-la? Matthieu Ricard, bioquímico que se tornou monge budista, a firma que podemos treinar nossa mente nos hábitos do bem estar para gerar um verdadeiro sentimento de serenidade e realização.


Video:

 

Créditos: Matthieu Ricard

              Ted

Thursday, January 17, 2013

O Mundo Segundo A Monsanto

O documentário de Marie Monique Robin, renomada jornalista investigativa, traz depoimentos de cientistas, políticos e advogados sobre a maior empresa de biotecnologia do mundo. A Monsanto produz 90% dos transgênicos plantados no mundo e é líder no mercado de sementes. A obra expõe relações políticas da multinacional com o governo de Bill Clinton e com o gabinete do ex premier Tony Blair.

Maria Monique viajou à Grã Bretanha, Índia, México, Paraguay, Vietnã, Noruega e Itália buscando informações, contudo a Monsanto se negou a dar entrevista a ela.

Em 2007, já haviam mais de 100 milhões de hectares plantados com sementes modificadas, metade nos EUA e o restante em países emergentes como Argentina, China e Brasil.

A Monsanto atua fortemente no Brasil, sobretudo com a produção de transgênico. Ela tem 36 unidades distribuídas por 12 estados - Alagoas, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, São Paulo, Tocantins e Distriro Federal. São 19 unidades de pesquisa, 8 unidades de processamento de sementes, 2 unidades de produção de herbicidas, 3 unidades de vendas, 1 unidade de distribuição e 3 escritórios administrativos.



O artigo "Intoxicação E Morte Por Agrotóxicos No Brasil" da professora Larissa Bombardi publicado no Boletim Dataluta, Unesp 09/2011 traz:

"O Brasil, como é sabido, alcançou em 2009 o primeiro lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos, embora não sejamos, como também é sabido, o principal produtor agrícola mundial. 

As indústrias produtoras dos chamados “defensivos agrícolas” – aliás uma expressão eufemística, que escamoteia o verdadeiro significado daquilo que produzem: veneno – tiveram, segundo o Anuário do Agronegócio 2010 (GLOBO RURAL, 2010), uma receita líquida de cerca de 15 bilhões de reais. 

 Deste total, 92% foram controlados por empresas de capital estrangeiro: Syngenta (Suíça), Dupont (Estados Unidos), Dow Chemical (Estados Unidos), Bayer (Alemanha), Novartis (Suíça), Basf (Alemanha) e Milenia (Holanda/Israel), apresentadas na seqüência por receita líquida obtida. Vale mencionar que nestes dados não estão incluídos as informações da receita da Monsanto - fabricante do glifosato “round up”, herbicida vendido em larga escala no Brasil e popularmente conhecido como “mata-mato”, o que nos permite afirmar que este número é sem dúvida muito maior. 

A Syngenta, por exemplo, que ocupa o primeiro lugar no rankeamento do setor, está instalada em 90 países, com cerca de 24 mil funcionários, dos quais, 4 mil no Brasil. Nos últimos cinco anos sua receita, em dólares, triplicou no país. (ANUÁRIO DO AGRONEGÓCIO, GLOBO RURAL, 2010). 

Estas pequenas informações dão indícios do que significa, atualmente, a internacionalização da agricultura. A agricultura brasileira é, sem dúvida, monopolizada pelo capital internacional. 

A expressão monopólio, neste caso, aparece mais vívida do que nunca: Estados Unidos, 
Suíça e Alemanha, juntos, através de suas empresas, controlam 70% da venda de agrotóxicos no Brasil. 

... Considerando que o Brasil consome 84% dos agrotóxicos vendidos à América Latina (PELAEZ, 2011) – e, considerando ainda que o setor de agroquímicos está oligopolizado por 6 grandes marcas, a saber: Monsanto, Syngenta/Astra Zeneca/Novartis, Bayer, Dupont, Basf e Dow – o que temos é um grave processo de subordinação da renda da terra ao capital internacional, melhor diríamos, ao capital oligopolista internacional."

Esclarecendo

PCBs: Bifenilos Policlorados constituem uma classe de compostos organoclorados resultantes da adição de átomos de cloro ao bifenilo.

Identificação dos Riscos

A exposição de organismos aos PCBS ocorre através da ingestão e contato direto com a água, alimentos e sedimentos contaminados e também pela inalação. A taxa de assimilação dos PCBs depende do número de número de átomos de cloro e a sua distribuição na molécula. 

O efeito mais comum de exposição aos PCBs é o cloroacne, uma escamação dolorosa que desfigura a pele, semelhante a acne. 

Essas substâncias quando dentro do organismo dos seres vivos são transportados pela corrente sanguínea até aos músculos e fígado. 

E por serem extremamente lipofílicos, tendem a acumular-se nos tecidos adiposos viscerais onde, estimulando as enzimas hepáticas, causam alterações na função do fígado. 

Nos seres humanos além do cloroacne, são observados os seguintes efeitos: hiperpigmentação, problemas oculares, elevação do índice de mortalidade por cancro do fígado e vesícula biliar, dores abdominais, tosse crónica, irregularidade menstrual, fadiga, dor de cabeça e nascimentos prematuros com deformações.

Mais Evidências da Letalidade do Glifosato Para Vertebrados:

O Departamento de Herpetologia (estudo de reptéis e anfíbios) da Sociedade Científica Arazandi, no País Basco, analisou os efeitos do herbicida glifosato (principal ingrediente ativo do Roundup, da Monsanto, usado nas lavouras transgênicas Roudup Ready - RR), sobre espécies de anfíbios que ocorrem na Europeus. 

Os resultados não deixam margem para dúvidas: doses menores do que as recomendadas pelos fabricantes produzem uma mortalidade absoluta para as 10 espécies estudadas.

O glifosato é um dos herbicidas sistêmicos não seletivo (mata qualquer tipo de planta) mais empregados no mundo e a Organização Mundial de Saúde o classifica como levemente tóxico para humanos.

No Brasil, várias das formulações registradas a base de glifosato têm classificação toxicológica IV (Pouco Tóxico), e a maioria delas tem classificação ambiental III, numa escala de I a IV em que I representa o maior perigo para o meio ambiente e IV o menor. Existe, entretanto, uma crescente controvérsia a respeito da segurança do produto tanto para a saúde como para o meio ambiente.

Fontes:










Monday, January 14, 2013

Cuidado Com A Neuro Bobagem

Os cérebros são especiais no mercado moderno: as manchetes afirmam que os sanduiches ajudam a tomar decisões, enquanto um "neuro drink" pode reduzir o estresse. Só tem um problema, diz a neurocientista Molly Crockett: os benefícios desses "neuro melhoramentos" não são comprovados cientificamente. Em seu discurso direto ao ponto, Crockett explica os limites da interpretação de dados neurocientíficos, e porque precisamos ter cuidados com eles.

VIdeo:


Transcrição:

"Eu sou uma neurocientista e estudo tomadas de decisões. Eu realizo experimentos para testar como as substâncias químicas do cérebro influenciam as escolhas que fazemos.

Eu estou aqui para lhes contar o segredo para uma decisão bem sucedida: um sanduíche de queijo. É isso mesmo. De acordo com os cientistas, um sanduíche de queijo é a solução para todas as suas decisões difíceis.

Como eu sei disso? Eu sou a cientista que fez o estudo.

Alguns anos atrás, meus colegas e eu nos interessamos em como uma substância química do cérebro chamada serotonina poderia influenciar as decisões das pessoas em situações pessoais. Especificamente, nós queríamos saber como a serotonina iria afetar a maneira que as pessoas reagem quando são tratadas injustamente.

Então fizemos um experimento. Nós manipulamos os níveis de serotonina das pessoas dando a elas essa limonada com um gosto horrível que funciona eliminando o ingrediente básico para serotonina no cérebro. Que é o aminoácido triptofano. Então o que descobrimos foi que, quando o triptofano estava reduzido, as pessoas tendem a se vingar quando são tratadas injustamente.

Esse foi o estudo que fizemos, e eis aqui algumas das manchetes que surgiram depois.

("Um sanduíche de queijo é tudo o que você precisa para tomar decisões difíceis")

("Que amigo temos em queijos")

("Comer queijo e carne pode aumentar o auto-controle") Nesse ponto, vocês podem se perguntar: eu perdi alguma coisa?

("Comprovado! O chocolate não deixa você ficar ranzinza") Queijo? Chocolate? De onde veio isso? E eu pensei a mesma coisa quando isso apareceu, pois o estudo não tinha nada a ver com queijo ou chocolate. Nós demos as pessoas essa bebida de gosto horrível que afetou seus níveis de triptofano. Mas acontece que triptofano pode ser encontrado em queijo e chocolate. É claro, se a ciência diz que queijo e chocolate ajudam você a tomar decisões melhores, com certeza isso prende a atenção das pessoas. Então é isso que temos: a evolução de uma manchete.

Quando isso aconteceu, parte de mim pensou: Bom, qual é o problema? A imprensa simplificou algumas coisas, mas no final, é apenas uma reportagem. E eu acho que vários cientistas têm essa atitude. Mas o problema é que esse tipo de coisa acontece o tempo todo, e isso afeta não só as reportagens que você lê nos jornais mas também os produtos que você vê nas prateleiras. Quando as manchetes apareceram, o que aconteceu foi que os comerciantes começaram a me ligar. Perguntando se eu gostaria de dar respaldo científico a uma bebida que melhora o humor. Ou se eu poderia aparecer na TV para mostrar, diante de uma audiência ao vivo, que comidas reconfortantes fazem você se sentir melhor. Eu acho que essas pessoas tinham boas intenções, mas se eu tivesse aceitado suas ofertas, eu estaria indo além da ciência, e bons cientistas são cuidadosos em não fazer isso.

Mas de qualquer forma, as neurociências estão cada vez mais presentes no mercado. Eis um exemplo: neuro-drinques, uma linha de produtos, incluindo Neuro Bliss aqui, que de acordo com sua embalagem ajuda a diminuir o estresse, melhora o humor, aumenta a concentração, e promove uma postura positiva. Eu tenho que admitir, isso parece fantástico! (Risos) Eu poderia ter usado isso 10 minutos atrás. Quando isso apareceu na loja da minha rua, eu estava curiosa sobre os endossos científicos que apoiavam essas propagandas. Então fui ao website da companhia tentando encontrar alguns dos testes controlados de seus produtos. Mas não encontrei nenhum.

Com ou sem teste, essas propagandas estão nas embalagens junto com um desenho de um cérebro. E acontece que desenhos de cérebros têm propriedades especiais. Alguns pesquisadores pediram a centenas de pessoas para ler um artigo científico. Para metade das pessoas, o artigo incluía uma imagem cerebral, e para outra metade, era o mesmo artigo mas sem a imagem cerebral. E no final -- vocês sabem onde isso vai chegar -- perguntaram as pessoas se elas concordavam com as conclusões do artigo. Então isso é o quanto as pessoas concordam com as conclusões sem a imagem. E isso é quanto concordam com o mesmo artigo que incluía a imagem cerebral. Então a mensagem para levar é a seguinte: Você quer vender isso? Ponha um cérebro nisso.

Agora vou fazer uma pausa e usar esse momento para dizer que a neurociência avançou muito nas últimas décadas, e nós estamos descobrindo coisas incríveis o tempo todo sobre o cérebro. Por exemplo, há algumas semanas, neurocientistas do MIT descobriram como parar hábitos em ratos apenas controlando a atividade neural numa parte específica de seu cérebro. Uma coisa muito legal. Mas a promessa da neurociência levou a algumas expectativas enormes e declarações absurdas e não comprovadas.

Então o que vou fazer é mostrar a vocês como checar algumas manobras clássicas e sinais óbvios, na verdade, para o que tem sido chamado de neuro-bobagem, neuro-besteira ou, como prefiro, neuro-absurdo.

Então a primeira declaração não comprovada é que você usa escaneamento cerebral para ler os pensamentos e emoções das pessoas. Eis aqui um estudo publicado por uma equipe de pesquisadores na seção de Opinião do New York Times. A manchete? "Você ama seu iPhone. Literalmente." Rapidamente, ele foi o artigo mais compartilhado do site.

Mas como eles descobriram isso? Eles colocaram 16 pessoas dentro de um scanner cerebral e mostraram a elas vídeos de iPhones tocando. Os scans cerebrais mostraram ativação dessa parte do cérebro chamada ínsula, uma região que eles dizem estar ligada ao amor e compaixão. Então concluíram que porque eles viram a ativação da ínsula, isso significava que os sujeitos amavam seus iPhones. Agora, só tem um problema com essa linha de raciocínio, e é que a ínsula faz muitas coisas. Certo, ela está envolvida em emoções positivas como amor e compaixão, mas também está envolvida com vários outros processos, como memória, linguagem, atenção, até mesmo raiva, repugnância e dor. Então com base na mesma lógica, eu poderia igualmente concluir que você odeia seu iPhone. O ponto aqui é, quando você vê a ativação da ínsula você não pode escolher a sua explicação favorita dessa lista, e é uma lista bem grande. Meus colegas Tal Yarkoni e Russ Poldrack mostraram que a ínsula é ativada em quase um terço de todos os estudos de neuroimagem já publicados. Então as chances são bem grandes de que sua ínsula vai se ativar agora mesmo, mas eu não vou me enganar pensando que isso significa que vocês me amam.

Por falar em amor e cérebro, há um pesquisador, conhecido por alguns como Dr. Love, que afirma que os cientistas encontraram a cola que junta a sociedade, a fonte do amor e da prosperidade. Dessa vez não é um sanduíche de queijo. Não, é um hormônio chamado ocitocina. Provavelmente vocês já ouviram falar. Então, o Dr. Love baseia seu argumento em estudos que mostram que quando você aumenta a ocitocina das pessoas, isso aumenta sua confiança, empatia e cooperação. Então ele chama ocitocina de "molécula da moral".

Agora esses estudos são cientificamente válidos, e eles foram replicados, mas isso não é a história toda. Outros estudos mostraram que a elevação de ocitocina aumenta a inveja. Aumenta a arrogância. A ocitocina pode enviesar as pessoas a favorecer seu próprio grupo às custas de outros grupos. E em alguns casos, a ocitocina pode até mesmo diminuir a cooperação. Então baseado nesses estudos, eu poderia dizer que a ocitocina é uma molécula imoral, e me chamar de Dra. Strangelove. (Risos)

Então vemos neuro-absurdos em todas as manchetes. E vemos nos supermercados, nas capas de livros. E nos laboratórios clínicos?

O imageamento por SPECT é uma tecnologia de escaneamento cerebral que usa um traçador radioativo para rastrear o fluxo de sangue no cérebro. Pela barganha de alguns milhares de dólares, há clínicas nos Estados Unidos que lhes fornecem um desses scans de SPECT e usam a imagem para ajudar a diagnosticar seus problemas. Esses scans, as clínicas dizem, podem ajudar a prevenir Mal de Alzheimer, solucionar problemas de vício e de dieta, superar conflitos matrimoniais, e tratar, é claro, uma variedade de distúrbios mentais desde depressão para ansiedade e TDAH. Isso parece ótimo. Muitas pessoas concordam. Algumas dessas clínicas estão lucrando dezenas de milhões de dólares por ano.

Só tem um problema. O amplo consenso na neurociência é que você não pode diagnosticar distúrbios mentais a partir de um único escaneamento cerebral. Mas essas clínicas trataram dezenas de milhares de pacientes até hoje, muitas delas crianças, e o imageamento por SPECT envolve injeção de radioativos, expondo as pessoas à radiação, que é potencialmente nociva.

Eu estou mais animada que a maioria das pessoas, como neurocientista, sobre o potencial da neurociência de tratar distúrbios mentais e até mesmo nos tornar melhores e mais espertos talvez. E se um dia pudermos dizer que queijo e chocolate nos ajudam a tomar melhores decisões, contem comigo. Mas não chegamos lá ainda. Nós não encontramos um botão de "comprar" no cérebro, nós não podemos dizer se alguém está mentindo ou amando apenas olhando seus scans cerebrais, e não podemos transformar pecadores em santos com hormônios. Talvez algum dia possamos, mas até lá, precisamos ter cuidado para não deixar que afirmações exageradas desviem recursos e atenção para a verdadeira ciência que é montar um quebra-cabeças muito maior.

Então é aqui que vocês entram. Se alguém tentar vender a vocês algo com um cérebro junto, não confiem apenas em suas palavras. Perguntem as questões complicadas. Peçam para ver as evidências. Perguntem a parte da história que não está sendo contada. As respostas não deveriam ser simples, porque o cérebro não é simples. Mas isso não nos impede de tentar entendê-lo, de qualquer forma.

Obrigada."

Créditos: Ted

Tuesday, January 8, 2013

O Veneno Está Na Mesa

Este documentário lançado em 2011 alerta sobre o uso indiscriminado de agrotóxicos na agricultura brasileira, agentes químicos fornecidos por empresas como BASF, Bayer, Dupont, Monsanto entre outras. 

Muitos dos venenos produzidos por estas empresas foram banidos em vários países de todos os continentes, mas no Brasil continuam em uso, inclusive pelos pequenos agricultores, que são obrigados a usar sementes transgênicas e pesticidas para conseguir crédito junto aos bancos.

O filme de apenas 50 minutos faz parte da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. Ele nos dá uma noção bem abrangente da gravidade do assunto, apontando os riscos ambientais e de saúde pública, além dos históricos interesses econômicos da iniciativa pública e  privada neste setor. Confira:



A seguir entrevista de Luiz Cláudio Meirelles publicada no site da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio ( EPSJV/Fiocruz ) em 29/11/12 feita por Viviane Tavares.

'Com a minha saída da Anvisa, o que fica de mais relevante não é a perda do cargo, mas sim que a saúde pode ficar fragilizada'

Há 12 anos na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o gerente-geral Luiz Cláudio Meirelles foi exonerado no dia 14 de novembro/12 após ter denunciado irregularidades no processo de liberação de seis agrotóxicos. De acordo com Meirelles nesta entrevista, a sua saída deve ser encarada como a suscitação do debate sobre saúde e que, a partir de agora, os movimentos sociais e pessoas relacionadas à saúde em geral devem estar em estado de vigilância sobre o tema e na atuação da Agência daqui para frente.

Qual era a atuação do Sr. na Anvisa?

Fui cedido para a Anvisa em 1999 pela Fiocruz e participei da criação da Agência. Em agosto do mesmo ano assumi a gerência de análise toxicológica e, em 2008, o cargo de gerente-geral de toxicologia (GGTox). Basicamente, quando a gente pensou na organização da GGTox, era estruturar toda parte de avaliação toxicológica e fortalecer esse tipo de análise no Brasil com base no que a lei determina. Já existia uma portaria e algumas leis e o princípio maior que norteou o nosso trabalho foi exatamente dar concretude a essa legislação. O nosso objetivo principal era avaliar a segurança destes produtos, desde o trabalhador ao consumidor. O trabalhador entende-se aquele que trabalha na fábrica e o agricultor, já o consumidor os que consomem alimentos que podem estar contaminados por este tipo de produto que está sendo autorizado. O primeiro passo que foi dado foi descer o decreto 98816 - que é o decreto que regulamentava a lei de agrotóxicos - que revisamos e terminamos em 2001 e 2002 foi publicado o novo decreto 4074/02, reforçando e fortalecendo as exigências para a segurança no campo da saúde. Do ponto de vista regulatório isso foi um grande marco. De lá para cá, trabalhamos em vários outros regulamentos e com questões como os resíduos de embalagens, a coleta de dados, que é precária, a reavaliação toxicológica e muitas outras coisas. 

Como você foi descobrindo as fraudes?

Eu estava de férias e uma das minhas gerentes me ligou e falou que o pessoal do Ibama tinha falando que havia um produto sendo comercializado que nós autorizamos, mas que ainda estava na fila de autorização do Ibama. A minha gerente verificou o produto em nosso controle interno e ele constava em situação de análise. No passo a passo, o registro é feito pelo Ministério da Agricultura, mas para fazer isso ele se baseia em dois documentos : um da Anvisa - que é em forma de avaliação toxicológica - e o do Ibama - que é um parecer. A partir daí, o Ministério pode entrar com o parecer deles que é de eficácia agronômica, dar o número, fechar o processo, publicar e registrar o produto. 

Quando descobrimos essa falha fomos investigar e realmente existia um deferimento de produtos sem a necessária avaliação toxicológica. O nosso processo interno passa por várias etapas, mas vimos que algumas haviam sido puladas neste processo porque nem nota técnica tinha. Ele passou direto e foi gerado um documento de autorização, pulando a da avaliação toxicológica que é a fase mais importante, a razão de existirmos. 

Quando vimos as irregularidades, acendi o sinal vermelho porque trabalhava em confiança com todos os meus gerentes. Pedi para a gerente que mexe com toda a parte documental para levantar se haviam outros casos e encontrei mais quatro processos com situação parecida e quase perto da minha exoneração mais um. Existem processos inclusive com assinatura incompatível com a minha. A questão da falsificação da minha assinatura é grave, mas o mais grave é não ter passado pela avaliação toxicológica. 

Logo que descobrimos isso tudo no primeiro produto, congelamos o sistema interno, fizemos um backup e guardamos. A cópia está disponível agora no modo leitura. À medida que iríamos identificando o produto-problema, mandávamos um email para nossos superiores e suspendíamos o informe de avaliação toxicológica. Também encaminhei os ofícios ao Ministério da Agricultura, com cópia para o Ibama, notificando as decisões e solicitando as medidas adequadas. 

Qual foi a reação da Anvisa?

Ao descobrir, em agosto, minha primeira atitude foi encaminhar os fatos para o diretor da Coordenação de Segurança Institucional, que é diretor-adjunto do diretor-presidente, e informei também à Diretoria de Monitoramento. E a primeira atitude da Anvisa foi encaminhar para corregedoria interna que investiga as ações dos servidores. Mas, como tinha havido ente externo, com suspeita de favorecimento inclusive, tinha que ser mais rápido, o que não ocorreu. A Anvisa tomou a decisão de avisar ao Ministério Público e à Polícia Federal somente no dia 19 de novembro.

Como foi exoneração do seu gerente?

Solicitei ao diretor-presidente o afastamento do Gerente da GAVRI e isso ocorreu em 40 dias. Tomei esta atitude porque os problemas estavam relacionados às atividades de sua gerência. Mas não o acusei, apenas pedi para que me informasse o que tinha acontecido. Esse tipo de situação pode acontecer em qualquer lugar, mas o problema é não tomar atitude imediata porque isso fragiliza a instituição. A intenção era manter a credibilidade e não criar nenhum tumulto. A nossa credibilidade existe e eu não iria permitir que ela fosse abalada por uma questão pontual. 

Com a sua saída o movimento social perde?

O movimento social interage muito com a Anvisa e por isso que todo mundo nos abraçou, porque tem confiança no nosso trabalho. Sempre falei que minha gestão era compartilhada e esse comprometimento e profissionalismo as pessoas percebem. O que o movimento social veio me dizer é que com minha saída causou um sentimento de perda, porque quando você interage e ouve é diferente.

É claro que a minha saída pode ser aproveitada com o debate que suscitou. Agora é preciso ser vigilante e bem atuante lá dentro. Precisamos saber quem são as pessoas. Com a entrada do novo gerente-geral saberemos qual é o norte. Agora há coisas que temos que exigir como os processos transparentes, as reavaliações etc. É preciso entender a responsabilidade que é liberar um produto, porque uma vez liberado, as pessoas vão consumi-lo. Não adianta depois ficar só contando as vítimas. Outro fator de grande importância é saber resistir à pressão das empresas.

Como você avalia a sua exoneração e agora a Anvisa concordando com a sua denúncia?

Na minha carta está exatamente o que o diretor falou para minha gerência e para mim, já na nota dele liberada recentemente há informações contraditórias. Ele diz que minha exoneração não tem nada a ver com o caso e que eu mantive um gerente suspeito durante um tempo. Isso não é verdade. O gerente tinha capacidade técnica e gozava da minha confiança como todos os outros gerentes. No momento em que eu descobri, tomei as providências rapidamente e pedi a exoneração dele. Agora quando ele coloca isso no texto, se ele sabia que eu sabia, ele também não fez nada. Estou preparando um texto como resposta e vou juntar ao relatório de gestão para colocar no ar. Quando ele me demitiu foi alegando as razões como a denúncia ao Ministério Público e a outra é que encaminhei equivocadamente a exoneração do gerente. Mas eu procurei duas vezes o diretor-adjunto e respeitei a ordem hierárquica, com a firmeza de que nada seria negociado. 

E toda essa mobilização a seu favor?

A minha saída é pouco importante, o que fica de maior é mostrar que a saúde pode ficar fragilizada. E essa foi a leitura de todo o movimento social. A nossa gestão era compartilhada, não era um burocrata de governo. A gente interagia com universidades, com várias áreas da Fiocruz, com os movimentos sociais.

Qual será sua atuação agora na Fiocruz?

Voltarei para o Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH) na ENSP e sei que tem um grupo muito forte e articulado dentro da Fiocruz de combate ao agrotóxicos. Vamos unir forças.


Fonte: Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida