Monday, November 9, 2009

Vitiligo : Pesquisadores Do Paraná Identificam Um Dos Genes Causadores da Doença





Um grupo de médicos e geneticistas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) fez uma importante descoberta sobre um gene associado ao vitiligo, doença que causa a despigmentação da pele. Coordenador do estudo, o dermatologista Caio Castro pesquisou cerca de 750 pessoas portadoras e não portadoras da enfermidade e descobriu que o gene produtor de uma proteina chamada DDR1 esta entre as causas do problema. Ela é responsável pela fixação dos melanócitos, que produzem a coloração da pele. Nos pacientes com a doença, havia irregularidades no gene que produz essa proteina. O estudo e parte da tese de Doutorado de Castro e tem orientação do geneticista Marcelo Mira, que também descobriu os genes associados a hanseníase. Eles apresentaram o trabalho em um congresso no Havai há duas semanas.


Quais são os fatores que in­­fluenciam no surgimento do vitiligo?
O vitiligo e uma doença que causa manchas brancas na pele, cabelo, pelos e mucosas. E considerada sistêmica porque alguns pacientes podem ter problemas de audição, inflamação nos olhos e cerca de 25% dos portadores tem também doenças de tireóide. É muito comum uma associação com outras doenças autoimunes. Não é contagiosa. Há células no corpo chamadas melanócitos, elas são as responsáveis pela produção da melanina, que dá a pigmentação da pele e protege contra os raios ultravioleta. Os melanócitos fi­­cam em uma camada bem superficial da pele, a epiderme, aderidos na chamada lamina basal. Para que ele fique aderido nesse lo­­cal, é preciso que haja uma substância (proteina) de ancoramento, auxiliando a fixação. Quem tem vitiligo, perde facilmente os melanócitos. Isso acontece nas áreas mais expostas em função de traumas físicos – como batidas, por exemplo – e químicos – como a exposição ao sol – e explica porque a manifestação ocorre mais nas mãos, face e genitais. Ela atinge 1% da população mundial em todas as faixas etárias. Na Índia chega a 1,76% e é considerada um dos principais problemas de saúde pública do país. O vitiligo é uma doença complexa porque não é causada somente por um gene. Para uma pessoa manifestar a doença, tem de ter mais de um gene alterado. Entre os fatores que a influenciam, por exemplo, está o estresse emocional. Em muitos casos, quando o paciente está estressado a despigmentação aumenta.

Existem duas teorias principais sobre as causas do vitiligo. A primeira é que ela seria uma doença autoimune. Ou seja, o próprio organismo ataca os melanócitos e os retira da camada basal da pele. O melanócito fica ligado ao queratinócito, que é a célula principal de revestimento da pele. Mas sabemos que só esta hipótese não dá conta da questão, porque há pacientes com vitiligo, cerca de 50%, que não tem autoimunidade. Por isso estamos procurando outras vertentes. A segunda teoria diz respeito a adesão dos melanócitos. Sabe-se, por meio de estudos experimentais, que os pacientes com o vitiligo tem uma fragilidade maior dos melanócitos em áreas de traumatismo. Isso causa o descolamento dessa substância. Uma curiosidade é que pode acontecer, inclusive, que alguns pacientes apresentem os dois tipos de defeito. O principal tratamento que traz benefícios e a fototerapia e, em alguns casos, os corticóides, mas não existe uma me­­dicação de laboratório específica, como há no caso da diabete ou doenças da tireóide, por exemplo. Na fototerapia, utiliza-se raios ultravioletas A ou B junto com alguns medicamentos para tentar estimular a repigmentação do local. Os melanócitos que não foram atingidos migram para as partes afetadas. É uma enfermidade pouco pesquisada e com poucas possibilidades de tratamento. Quando o paciente não responde bem a nenhuma dessas opções, ficamos sem alternativa.


Como começou sua pesquisa?
Sou o médico responsável por este setor na Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. Co­­me­­cei a fazer Doutorado em Ge­­nética do Vitiligo em 2007, na PUCPR. Junto com o professor Marcelo Mira criamos uma das poucas linhas de pesquisa sobre esta doença no mundo. Não há muitos estudos nesta área, mesmo sendo uma enfermidade comum. Quando descobrirem um medicamento, será uma revolução. Durante minha pós graduação, participei de uma seleção realizada pelo laboratório suíço Roche e fui para a Suíça pesquisar. O interessante é que eles assinaram uma carta abdicando de uma possível patente das descobertas. É um reconhecimento dos pesquisadores brasileiros.
Na pele normal existe uma proteina chamada DDR1. Ela é um receptor que faz com que o melanócito se ligue a lamina basal. É uma espécie de cola. Quando há um traumatismo ou estresse, o corpo envia uma mensagem para que os melanócitos se fixem com mais rigidez a pele, mas nos pacientes com vitiligo provavelmente exista uma falha nessa resposta. O ineditismo da pesquisa esta em identificar um dos genes causadores da doença e o que acontece com a DDR1. Até então não sabíamos que havia um problema com esta proteina que dificultava a adesão dos melanócitos. Para chegar a tal conclusão, coletamos inicialmente amostras de 1,1 mil pacientes de Santa Cata­rina e do Paraná, mas analisamos somente 860. Houve uma divisão em dois grupos: baseado em pessoas da mesma família e posteriormente entre portadores ou não da enfermidade. No primeiro foram 210 famílias. Estudamos pais, mães, avos, avós e irmãos. Depois, para comprovar a descoberta e ver se não havia ne­­nhum erro, selecionamos 134 indivíduos afetados e outros 134 não afetados. No­­vamente a constatação se confirmou: a probabilidade de um indivíduo ter vitiligo era muito maior quando apresentava alterações na DDR1.


E quais são os próximos passos agora?
Como já disse, o vitiligo e uma doença complexa. A nossa descoberta é um grande passo, mas os estudos continuam. Outros países devem replicar os resultados, ver como a DDR1 se comporta nas mais diversas populações. Os laboratórios também devem se interessar por essa área no futuro. Nos iremos estudar o que acontece com a proteina e analisar como ocorre essa falha na produção. E um caminho para desvendar a doença e encontrar uma medicação efetiva. No entanto, ainda vai demorar cerca de dez anos para termos algo concreto em relação a cura.




Fonte: Gazeta do Povo - Saúde

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