Tuesday, July 1, 2008

Remédio Criado A Partir De Fungo Consegue Matar Cancer De Fome


Molécula batizada de "lodamina" destruiu tumores de mama, próstata, útero e cérebro. Substância age destruindo vasos sanguíneos que alimentam massa tumoral.


Um novo remédio, criado a partir de um fungo que contaminou acidentalmente um experimento, pode se mostrar eficaz contra um espectro amplo de tumores, afirmam cientistas. Batizada de lodamina, a droga foi aperfeiçoada em um dos últimos trabalhos de Judah Folkman, um dos maiores especialistas em cancer do mundo, que morreu em janeiro passado. Folkman foi o pioneiro da chamada antiangiogênese -- uma estratégia que consiste em matar os tumores de fome, acabando com os vasos sanguíneos que os alimentam.


A lodamina é um inibidor de angiogênese (formação de vasos sanguíneos) que a equipe de Folkman está tentando melhorar ha 20 anos. Num artigo na revista científica "Nature Biotechnology", os colegas do falecido pesquisador dizem ter criado uma formulação que pode ser tomada como uma pílula.


Testes mostraram que o medicamento funciona contra tumores de mama, neuroblastomas, canceres de ovário, de próstata, de útero e tumores cerebrais conhecidos como glioblastomas. Segundo Ofra Benny e seus colegas do Hospital Pediátrico de Boston e da Escola Medica de Harvard, a droga deteve os chamados tumores primários (os primeiros a aparecer num dado organismo) e também impediu que a doença se espalhasse para outros focos no corpo.


"Ao ser administrada oralmente, ela atinge primeiro o fígado, o que a torna especialmente eficaz na prevenção de metástases [formas secundárias do tumor] hepáticas", escrevem os pesquisadores em seu artigo. "As metástases no fígado são muito comuns em muitos tipos de tumor e costumam estar associadas a um prognóstico ruim e a uma baixa taxa de sobrevivência", acrescentaram eles.


A droga foi isolada originalmente de um fungo chamado Aspergillus fumigatus fresenius. Donald Ingber, da Universidade Harvard, descobriu o fungo por acidente ao tentar cultivar células endoteliais, que revestem a parede dos vasos sanguíneos. O bolor afetou as células de modo a impedir o crescimento de pequenos vasos conhecidos como capilares. Os pesquisadores logo perceberam o potencial antiangiogênico da substância por trás do fenômeno, mas a molécula tinha efeitos colaterais, causando depressão e tonturas. Além disso, não permanecia muito tempo no organismo.


Benny e seus colegas resolveram o problema com a ajuda da nanotecnologia, que permite manipular com precisão as características de uma molécula. O grupo "colou" dois grupos de átomos na substância original, protegendo-a dos ácidos do estômago. Com isso, a droga alterada conseguiu chegar diretamente as células tumorais, destruindo-as sem efeitos colaterais aparentes.


Os pesquisadores crêem que a lodamina podera ser útil contra outras doenças ligadas ao crescimento anormal dos vasos sanguíneos, como a degeneração macular ligada a idade, problema de visão que pode levar a cegueira.

Fonte : G1 Ciência e Saúde

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